EN>PT (EU) Erros Comuns
Este documento foi elaborado com base nos erros de tradução mais comummente detetados no par de línguas EN>PT (PT), no âmbito do processo de controlo de qualidade da Gengo. Utilize este guia, em conjunto com o Guia de Estilo da Gengo e todos os Instrumentos de Normalização Linguística relevantes, para esclarecer dúvidas frequentes e melhorar o seu desempenho global.
Conselhos gerais
Alguns procedimentos gerais que o ajudarão a evitar erros comuns:
- Aplique sempre uma ferramenta de correção ortográfica e gramatical ao seu texto.
- Faça sempre uma leitura final para revisão do seu texto.
- Quando algo «soa mal», ou parece pouco claro ou incompleto, provavelmente precisa de ser reescrito. Mesmo não sabendo explicar determinados erros gramaticais, os falantes nativos possuem uma «intuição gramatical» que lhes permite identificar erros; utilize esta faculdade nas suas revisões e adapte os trechos que não lhe «soam tão bem».
- Escolha corretamente as suas fontes de pesquisa de termos: evite websites brasileiros (.br) e websites de tradução automática (ex.: Google translator); efetue pesquisas de termos em documentos oficiais idênticos aos que está a traduzir.
Exemplos e análise dos erros mais comuns
1. Tradução literal
Cada idioma possui convenções e mecanismos próprios para transmitir mensagens com um determinado sentido, intenção ou conotação, podendo essas convenções variar ao longo da história, já que a língua é uma entidade dita «viva» e em constante evolução. Por este motivo, as traduções literais, ou «palavra por palavra», originam frequentemente textos não fluentes ou, nos casos mais extremos, incorretos do ponto de vista gramatical (sintático, semântico e pragmático). Compete, assim, ao tradutor procurar compreender a mensagem de partida antes de efetuar a conversão para a língua de chegada, sem receio de adaptar expressões ou de reestruturar frases para que a tradução se torne natural e fluente em português. Lembre-se: traduzir é interpretar e o tradutor é um escritor.
1.1. Estruturas sintáticas
As traduções literais do ponto de vista sintático podem dar origem a textos desadequados e de difícil leitura. Nos casos mais graves, podem comprometer a clareza do texto ou alterar o seu sentido original. É natural que o tradutor sinta necessidade de reformular alguns aspetos como, por exemplo, a ordem das palavras, a ordem das expressões, os tempos verbais ou o grau de formalidade, para produzir um efeito semelhante na língua de chegada.
Exemplos:
EN: Discover this friendly and accessible tool.
PT: Descubra esta ferramenta amiga e acessível. ✖
PT: Descubra esta ferramenta acessível e de fácil utilização. ✔
EN: We will send you more information regarding your trip prior to your departure.
PT: Enviar-lhe-emos mais informações sobre a sua viagem antes de partir. ✖
PT: Antes de partir, enviar-lhe-emos mais informações sobre a sua viagem. ✔
1.2. Expressões idiomáticas
As expressões idiomáticas podem ser palavras ou expressões (idiomatismos semânticos) ou estruturas gramaticais (idiomatismos sintáticos). São expressões idiossincráticas: os conceitos que evocam só são compreendidos no idioma de origem. Como tal, não devem ser traduzidas literalmente para uma língua que não reconhece as mesmas associações. Os provérbios populares são exemplos expressivos deste fenómeno linguístico.
Exemplos:
EN: Never judge a book by its cover.
PT: Nunca avalies a qualidade de um livro pela sua capa. ✖
PT: Nunca deixes que as aparências te iludam. ✔
EN: Try not to cut any corners in the process.
PT: Tenta não cortar muitos cantos no processo. ✖
PT: Tenta seguir todos os passos do processo sem procurar atalhos. ✔
2. Regência nominal/verbal e preposicional
Os verbos transitivos (diretos ou indiretos) só fazem sentido quando acompanhados pelos respetivos objetos. Em muitos casos, a regência entre o verbo (o elemento regente) e o objeto direto ou indireto (o elemento regido) é estabelecida por uma preposição. Alguns verbos aceitam várias preposições, assumindo diferentes significados para cada uma delas. Acrescentar ou omitir um complemento ou uma preposição, pode, por isso, alterar o sentido da frase ou torná-la incompleta.
Exemplos:
EN: Please, call Brian immediately.
PT: Ligue imediatamente com o Brian. ✖
PT: Ligue imediatamente ao Brian. ✔
EN: Red and green do not match well.
PT: O vermelho não liga bem ao verde. ✖
PT: O vermelho não liga bem com o verde. ✔
Análise:
O verbo «ligar» pode ser utilizado com as preposições «a» e «com». «Ligar a» (algo ou alguém) significa «dar atenção», «unir», «telefonar», e difere de «ligar com» (algo ou alguém), que significa «entender-se», «harmonizar-se», «ter afinidades com».
3. Linguagem oral e formas de tratamento informais
A utilização de linguagem oral ou informal é pouco frequente nos projetos da Gengo. Habitualmente, utilizamos uma linguagem neutra e profissional, com recurso à 3.ª pessoa verbal (você). No entanto, deverá utilizar linguagem informal e/ou oral, sempre que o cliente o solicitar, quando o público-alvo for jovem ou quando estiver a traduzir legendas ou diálogos em contextos informais.
Exemplo:
EN: This is a great product for young moms.
PT: Este produto é bué bom para as jovens mamãs. ✖
PT: Este produto é excelente para as jovens mamãs. ✔
4. Utilização de pronomes pessoais em textos formais
No registo formal e semiformal da língua portuguesa — que abrange a maioria dos textos traduzidos pela Gengo — convencionou-se a não utilização de pronomes pessoais na função de sujeito/objeto direto/objeto indireto (ela, ele, elas, eles, você, vocês; dela, dele, vosso; a ela, a ele, a você; nela, nele; etc.) Estes pronomes são demasiado «pessoais» em contextos que requerem um maior afastamento e cortesia em relação aos referentes animados (pessoas, personagens ou animais).
Exemplo:
EN: To reboot your device, you turn it off and then turn it back on again.
PT: Para reiniciar o seu dispositivo, você desliga-o e depois volta a ligá-lo. ✖
PT: Para reiniciar o seu dispositivo, desligue-o e volte a ligá-lo. ✔
5. Inversão da posição do adjetivo/modificador
Em textos não literários, utilize preferencialmente a ordem natural da língua portuguesa para posicionar nomes e adjetivos (nome + adjetivo/modificador).
Exemplo:
EN: You should honestly answer the questions.
PT: Deve honestamente responder às perguntas. ✖
PT: Deve responder honestamente às perguntas. ✔
6. Paralelismo sintático em orações coordenadas
A coordenação é um processo que combina unidades linguísticas que desempenham a mesma função sintática (por exemplo: nome + nome, adjetivo + adjetivo, advérbio + advérbio, etc.). Assim, ao utilizar as conjunções coordenativas (e, nem, mas, ou, logo, pois, que) certifique-se de que os elementos linguísticos que as antecedem e precedem pertencem à mesma classe gramatical. Lembre-se também de que nestes casos, em inglês, antes de «and» utiliza-se uma vírgula, ao passo que em português o «e» só é precedido de vírgula para marcar o início de uma nova oração.
Exemplo:
EN: Choose the perfect clothing, shoes, & electronics!
PT: Escolha os melhores artigos de roupa, calçado, e de eletrónica! ✖
PT: Escolha os melhores artigos de roupa, de calçado e de eletrónica! ✔
Outros erros comuns
Utilização de maiúsculas: exceto quando expressamente solicitado pelo cliente ou em títulos, apenas os nomes próprios, as siglas, os acrónimos e a primeira palavra de cada frase deverão ser grafados com letra maiúscula. Em particular, não se utiliza maiúscula a seguir a dois pontos («:»). Para mais informações sobre a utilização de maiúsculas e minúsculas, consulte o Guia de Estilo da Gengo.
Estrangeirismos: os estrangeirismos, muito frequentemente anglicismos e brasileirismos (ex.: «download» e «usuário»), podem dificultar ou impedir a compreensão do texto a um grande número de leitores que não dominam línguas estrangeiras. Deve escrever em português europeu todas as palavras estrangeiras que tenham equivalente natural e de uso comum em Portugal (ex.: «transferir» e «utilizador»).
Plural de siglas: em português, as siglas e os acrónimos não variam em número. Diz-se «nove DVD» e não «nove DVD’s» ou «nove DVDs»; diz-se «os PALOP» e não «os PALOPs».
Aspas vs. apóstrofo: o apóstrofo (‘) é um sinal gráfico utilizado para assinalar a supressão de um ou mais sons (ex.: «n’Os Lusíadas»), não devendo confundir-se com as aspas (” “) ou (« »), utilizadas para assinalar o discurso direto ou estrangeirismos.
Utilização de «&»: em Portugal, exceto em nomes comerciais, não se generalizou o uso de «&» em substituição da conjunção «e», ao contrário do que se verifica nos países de língua inglesa.
«Please» e «sorry»: em inglês, utiliza-se «please» em frases imperativas, com o intuito de facultar instruções ou informações; em português, apenas se contempla a utilização da expressão «por favor» em pedidos e ordens. Em frases imperativas, deve omitir a tradução de «please» (ex.: em vez de «Por favor, introduza o seu nome», utilize apenas «Introduza o seu nome»). Do mesmo modo, deve omitir a tradução de «sorry» quando utilizado em inglês com o intuito de facultar uma instrução com delicadeza
Símbolos e unidades monetárias: o nome das unidades monetárias (ex.: euro), o respetivo código ISO (EUR) e o símbolo (€) colocam-se depois do montante, separados por um espaço (ex.: 1500 euros ou 1500 EUR ou 1500 €). O mesmo se passa com as unidades de medida, símbolos e abreviaturas associados a números (ex.: «km», «s», «l», «$», etc.). Lembre-se também de que, em Portugal, o separador decimal é a vírgula e não o ponto (ex.: 2,5 km e não 2.5 km). Para mais informações sobre formatação de números e montantes, consulte o Guia de Estilo da Gengo.
Hiperligações úteis
Guia de Estilo da Gengo para português europeu
Gramática portuguesa: FLiP-On-line/Gramática
Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa
Acordo ortográfico: Guia do Acordo Ortográfico da Porto Editora
Utilização de vírgulas: Semear vírgulas (Porto Editora)
Esclarecimento de dúvidas linguísticas gerais: Ciberdúvidas
Terminologia de TI: Microsoft Language Portal
Nomes de países: Norma ISO Alpha 2